02 janeiro 2011

LITERATURA E PSICODRAMA II

LITERATURA E PSICODRAMA II –
AS PERSONAGENS

POR Luiz Contro

Outra vertente que podemos explorar, quando pensamos nas interlocuções entre Literatura e Psicodrama, diz respeito às imagens vindas da própria Literatura e que espelham faces psicodramáticas significativas. Destaquemos algumas.
Comecemos por frase de um autor ao relatar vivência decorrente do seu fazer: “Poder-se-á dizer que, letra a letra, livro a livro, tenho vindo a implantar no homem que fui as personagens que criei” (José Saramago). A frase de Saramago permite verificar que a criação de personagens, dos quais o Psicodrama se utiliza, deve muito à arte literária. O próprio teatro(outro reduto de pedras preciosas a servir o método psicodramático), muitas vezes, como o cinema, colhe do manancial literário ao adaptar estórias anteriormente escritas.
Não derivo deste argumento uma hierarquia de importância. Apenas constato e realço haver esta similaridade que pode, talvez, ser potencializada. Afinal, o princípio literário a que se referiu Saramago, se assim podemos dizer, tem parentesco estreito com um dos que habitam o tronco do Psicodrama: conhecer nossos íntimos, e ao mesmo tempo coletivos, enredos, agregando novas alternativas, via as personagens por meio dos quais se improvisa no exercício criativo.
Como decorrência, algumas questões se colocam. Parece-me que alargar o conhecimento que se tem das produções literárias pode trazer ao psicodramatista uma visibilidade maior de sua área de manejo. Algumas personagens, não por acaso, em fenômeno similar ao que descrevi na coluna anterior em relação a textos, tornaram-se clássicas. Quantos Super-Heróis, quantos Édipos, quantos Patinhos Feios, quantos Sísifos, quantos Narcisos, quantas vítimas e algozes já habitaram as produções psicodramáticas? Creio que quanto mais deles o psicodramatista souber, no âmbito da Literatura, um pouco mais iluminados estarão os labirintos percorridos. Isso não em função de estabelecermos categorias classificatórias, mas para aumentar o número de inserções pelas quais se pode pesquisar. O psicodramatista Sérgio Perazzo em “Perséfone e o mendigo”(1999), ao fazer analogias com a mitologia grega e Alfredo Naffah Neto em “O psico-socio-drama da Pietá”(1980), ao realizar um paralelo da imagem produzida em cena com a escultura de Michelangelo, já nos sinalizaram sobre os ganhos obtidos ao relacionarem personagens frutos da produção psicodramática com, no caso, a mitologia e a escultura.
Por outro lado, como psicodramatista em experimentos que tenho desenvolvido com colegas poetas e contistas, identificamos o quanto a produção de personagens e enredos, via o Psicodrama, pode se constituir em rico material para a criação literária. A conferir em postagens posteriores.

Um comentário:

Cecilia Prada disse...

Para Luiz Contro: fiquei muito curiosa com a sua citação de uma obra sobre "La Pietà", utilizada no psicodrama, por quanto eu - não sei se sabe disso - tenho um conto inclusive de renome internacional sobre esse tema, e que também já foi adaptado para teatro...Posso enviá-lo, se quiser. Abraço.

Related Posts with Thumbnails