Por: Paola Benevides
Como vida, ela se comove. Movimenta o corpo entre os incômodos da casa de armas. Sem televisão ou janela, já lhe bastam as portas. As batidas do peito vão à cara. Está presa. No canto, um colchão. Vazio povoado por um poço de pólvora sem colete à prova de balas. Pele alva, alvo de cinzas. A menor explosão carregava ilusão de existência. Com o mais fino barulho dos rifles na parede, ansiava minar seus dias de festim. Mas quando seria a próxima guerra? Já estaria nela, chave perdida dentro da própria gaveta, aquela de criado-mudo a esconder o revólver da família. Sem munição de ânimo, era uma ilha de coisas mortas. O enxofre no ar antecipava todo o olor do inferno, triste e amargo. Poderia ser o seu renascimento, pensava. Outra alma lhe caberia mais alegre. A vontade de fumar chamava a de ferver sua alma naquele caldeirão dos diabos imediatamente. Atônita, procurava a melhor maneira de desmantelar a bomba atômica, só não admitia que a dinamite era ela, imprópria a si mesma. Erma dos outros. Pavio curto que destrói em labaredas. Sem. Ao fim.
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