Por Paola Benevides
Quanto mais eu acreditava estar o amor no ponto de cozimento, mais ele desandava. Eu, aprendiz de mestre cuca, deixava em banho-maria este alimento, sem percebê-lo já meio estragado, coalhando com o mínimo de fervor. Eu que tentei mantê-lo firme na doçura e bem encorpado, acrescentando o tempero da paixão, não atentei para a sua textura. A cada nova prova, uma inconsistência maior se revelava. Mesmo o gosto que era, por vezes, suave-feliz, passou a oscilar entre o ácido-cínico e o amargo-desencanto, causando má digestão aos fiéis degustadores. Cada qual com o seu paladar e a sua saliva, seguiram se beijando, porém sem a mesma fome de antes. Chupavam dedos, devoravam os próprios egos. O fogo, de tão alto, fez-se brando. Vira-e-mexe, quando a chama voltava, banqueteavam-se de novo, mas a menor brisa bastava para que se apagasse o gozo. Findado o tempo de cozimento, quebraram-se pratos, perdeu-se o sabor.
É que o amor já havia passado do ponto.
3 comentários:
Paolinha, que texto! Disse tudo e quanto!
Paolita!
Que saudade desta perspicácia, dos proseios pelas madrugadas entre uma e outra cerveja gelada. Além do bom e velho Rock'n Roll.
Um bjim, grato.
MFinholdt
Queridos, o meu carinho, muito obrigada!
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