31 março 2010
Notícias
http://www.cpflcultura.com.br/video/integra-jacques-lacan-e-psicanalise-do-seculo-xxi-jorge-forbes [Entre os 101 e os 107 minutos finais, reservados às perguntas ao conferencista]
Este post visa buscar colocar em relevo um ponto crucial da Segunda Clínica de Jacques Lacan onde, ao contrário do que afirmava antes sobre o Registro do Real (que 'não tem fissuras', seria inapreensível, exceto pela experiência do psicótico, 'foracluído' da órdem simbólica, coextensiva à linguagem), vem a confirmar que (...) 'Há furos no Real", em seu Seminário XXVII - "Sinthome", tal com vinha discutindo na coluna Fragmentália do De Chaleira, no que concerne ao efeito de Epifania como um "furo no real".
30/ 03 Biógrafo consultou serviço secreto americano para escrever sobre Marilyn Monroe
30/ 03 Nova versão de Godzilla chegará aos cinemas em 2012
29/03 Cartola chegava a beber 2 litros de cachaça por dia; leia curiosidades
29/03 Gibi do Superman bate recorde, vendido em leilão por US$ 1,5 milhão
29/03 Ricky Martin já edita manuscrito de seu livro que "desafoga" emoções
29/03 "Armando Nogueira é o último dos cronistas esportivos do país", diz Juca Kfouri
29/03 Congresso Internacional sobre livro digital começa hoje em SP
28/03 Conheça "Capão Pecado", livro que provocou afastamento de professora na Bahia
28/03 Verso de poeta alagoano estampa cartaz da próxima Bienal de São Paulo
27/03 Livro explora escritos que Kafka queria que fossem queimados
26/03 Livro de crochê ganha prêmio de mais estranho; veja obras curiosas
26/03 Após atraso de 3 horas, Axl Rose leva garrafada do público peruano
25/03 Coletânea de contos de Sherman Alexie vence o Prêmio PEN/Faulkner de ficção
20/03 Paulo Coelho defende autopirataria
18/03 Rubem Fonseca deixou editora após recusa de publicar "discípula"
13/03 Romance revela jogo de intrigas que nutre mundo literário
*** *** ***
CULT - O fetichismo como dispositivo de crítica
FILOSOFIA - Solidão do conhecimento
FILOSOFIA - Filme instiga a reflexão baseando-se no pensamento de diversos filósofos, como Nietzsche e Sartre
LITERATURA - Imagem Estilhaçada
HISTÓRIA VIVA - Rasputin se recusa a morrer
SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL - A guerra ideológica da internet
30 março 2010
RODOVIÁRIA
29 março 2010
Short Story I
Minha filha, acordou nesta terça tão acabadinha, carinha de piedade:
- Estou com dor de cabeça, mãe, não quero ir na escola...
- Não vá então... Volto tarde, tenho reunião. Qualquer coisa me ligue,viu? Beijo, lindinha.
Tão preocupada, cancelei meus compromissos. Cheguei mais cedo em casa, coitada, a garota ardendo em febre: a lazarenta gemendo com o padrasto entre as pernas.
28 março 2010
MICRONARRATIVA E O NÃO-SABER - DROPS TEÓRICOS + Mcs
***
"Para Clarice"
[Da série "Metafísica Temprana"]
Por Marco A. de Araújo Bueno
- Posso comer esse ovo, mãe? Ou ele está grávido,ainda?
{Mc monofrásico de dez palavras, inédito, a propósito do apreço que Clarice Lispector tinha pelo seu conto "O Ovo e a Galinha", aquele que pretendia ler em um congresso de bruxaria na Colômbia, caso não lhe permitissem o silêncio}
***
ARRITMIA
Por Rafael Noris
o músico bêbado
leva à noite
emoções violadas.
27 março 2010
EXERCÍCIO EXOBLOG
24 março 2010
A ORELHA DE VAN GOGH
23 março 2010
HOLOGRAMA (Um Prosimetrum sci-fi)
Holograma
Por Marco A. de Araújo Bueno
22 março 2010
EU CREIO EM LÂMPADAS
Uma mentira
estampada no céu,
as estrelas
brilham enganando
os olhos.
O sol
esclarece
a noite,
é verdade.
Na dúvida,
como acreditar
em uma estrela?
publicado originalmente em: http://guisalla.wordpress.com/2010/03/20/eu-creio-em-lampadas/
21 março 2010
FRAGMENTÁLIA VII - DROPS TEÓRICOS + Mcs + Haikai
[Koch,M.Dolores in "Diez Recursos para Lograr la Brevidad en el Micro-relato]
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MICRO-DIVAGAÇÕES
por Rafael Noris
"um mosquito gordo
na janela, a luz da manhã
trespaça meu sangue."
George Swede
"Do último verão, no tronco da árvore, a casca vazia de uma cigarra: ouça o canto."
Dalton Trevisan
O que há de comum neste haicai e microconto? Ambos contam histórias, apresentam conflitos, são epifânicos. Ambos se distinguem na forma, mas são transgêneros no conteúdo. Imagine:
"Na janela, o mosquito gordo e a luz da manhã que trespassa meu sangue."
"Do último verão:
a casca vazia da cigarra
no tronco da árvore."
O conteúdo não diz muito, não te diz o que sentir: mas você sente! Algo tão pessoal... Há casos que os microtextos se correlacionam, te iluminam...
Bons haicais e bons microcontos são epifânicos e têm o mesmo alvo, objetivo: teu espírito (razão e emoção, caso queiram). Ou não?
***
EQUALIZANDO A RELAÇÃO
por Marco Araújo Bueno
Ela quer: "Sinta saudade; liga sempre! "Ele fantasia...cinta-liga!
20 março 2010
Mistérios Gozados*

Ó, rabo de saia da sereia maia em pagã profecia: sacia minha água com toda a sede desse mundo que se finda. Afunda o dedo na fé rígida de Onã. Posso ajudar até com minha feminina saliva escorreita entre os seios nus a ornar crucifixo. Sou fixada em Pagu. Duela com ela, afoga, afaga, afogueia... Aaahummm, misericórdia. Êita, Diaba! Quem sabe a santa não vira cobra? Serpenteia de aranha?
Pois é, agora estão indo cobrar esmola até no céu-da-boca, no belo-léu, na estrela de Belém, no Café Bagdá. Assim não, não dá mesmo. É foda, hein?! Lá já tem escola de se fazer menestrel e fada. O que decerto muito me enfada: a freira, a mulher do padre, o bedel metendo o bedelho nos coroinhas e, além desses coroas todos atrás de mocinha casta, uma beata beatnick me bate à porta, recolhendo dízimo da população a ser dizimada, com toda fúria de Yemanjá. Diz rimada ainda que à nossa senhora falta um véu. É tanta desculpa, mea culpa esfarrapada.
Minha, esta senhora é que não é. Ainda se diz com Deus casada. Ora, antes ela estivesse tal Eva, pelada, a se enturmar com a víbora de Adão. Mas não, nem o cão dela se apoderava. Também pudera, da última vez em que foi por ele chifrada, pôs-se a praticar o pompoarismo com as bolas graúdas dum terço de madeira bem pesada que servia de enfeite na igreja. toc toc no microfone Santinha do pau oco. Fazia pouco do imortal. Devota devassa, infalível fálica, deglutidora do corpo de Cristo. Ave Maria!
A reza de todos os dias era para achar um homem que prestasse, mas que prestasse mais contas à ela, do arrecadado do papado, sendo o Bento dela. Era a própria besta fera em busca de um abestado.
Noite passada em seu recinto, após a missa do gargalo, ouvindo I've Got the Power! aquele Hit super anos 80, bebeu São Braz num vinho tinto e esbravejou:
- Sangue de Cristo tem Poder! Sangue de Cristo tem Poder!!
As irmãs do quarto ao lado reclamaram, pois tentavam assistir (desta vez sem lesbianismos) ao canal do padre jovem bonitinho tesudo carismático.
666 minutos depois, adormeceu tanto que sonhou. Viu-se longe do calor de seu hábito, vestida num corpete justo com saia mini. Deusa seja louvada. O batom tão vermelhozente quanto o salto, rímel preto-tenso nos olhos e força, muuuita força na peruca. Foi quando Maria Madalena, bendita que só ela, cá entre nós, na encruzilhada da Luz com Madonna e a Pomba-gira, então gritou:
- JESUS te ama, minha filha!(Logo essa filha da puta)
E a profana carola a cantarolar começou:
Life is a mystery
Everyone must stand alone
I hear you call my name
And it feels like WOMAN
*Texto interpretado pela autora em recital: "A Literatura sempre foi Mulher", da Quarta Literária Especial do mês de março "delas", relizado no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, Ceará. (Dia 17/03/2010)
18 março 2010
Ofélia I - da prosa para o mote e glosa.
Por Marcelo Finholdt
Mote
Fiquei logo sem defesa.
Em seus braços, no calor:
Vento trouxe a camponesa,
No trigal senti o olor...
Glosa
Cá nos campos, entre o trigo,
Sob o céu azul turquesa
Nosso natural abrigo,
Fiquei logo sem defesa.
Vento amável, amador!
Trouxe Ofélia p’ro meu lado,
Em seus braços, no calor,
Seu olor, um bom agrado.
Ah! Dourado era o lençol,
Vento trouxe a camponesa,
Tudo ardia sob o sol
E inundava a correnteza...
No trigal senti o olor...
Conheci então nobreza
Sob as vestes desse amor
Naveguei na natureza!
17 março 2010
Notícias do Universo Literário
16/03 - 'Ele odiaria', diz responsável por exposição de cartas de Salinger
16/03 - Pesquisadores descobrem peça 'perdida' escrita por Shakespeare
16/03 - Em meio a histeria, Berlusconi lança livro sobre o amor
15/03 - Ator de 'Senhor dos Anéis' fará papel de Freud em filme de David Cronenberg
14/03 - Jorge Amado volta ao cinema em três filmes
13/03 - Instalações e interação discutem erros da língua portuguesa
12/03 - Eventos celebram o Dia Nacional da Poesia em São Paulo; veja programação
12/03 - Ministro da Cultura exalta 'anarquismo explosivo' de Glauco
12/03 - Veja a repercussão da morte do cartunista Glauco
12/03 - Aos 89 anos, morre escritor espanhol Miguel Delibes
11/03 - Crítico literário Terry Eagleton é destaque em seminário
11/03 - Leia primeiro capítulo de clássico de Arthur C. Clarke que chega ao Brasil
10/03 - Itália faz acordo com Google para digitalizar um milhão de livros
04/03 - Flip divulga vinda de William Boyd e de Yehoshua
REPORTAGENS
A maior exposição de Andy Warhol já apresentada na América Latina chega a São Paulo
Sigmund Freud - Do Divã para os Livros
Jimmy Corrigan - Saga Revolucionária de um Homem Medíocre
16 março 2010
Retrato de Polaroid
15 março 2010
Recriação de um Capricho
Por Rafael Noris
Na armadilha tua,
aranha do céu,
se embaraçam as estrelas –
de cadentes em cadentes,
a lua analisa seu banquete de desejos.
CAPRICHO
Por F. García Lorca
En la red de la luna,
araña del cielo,
se enredan las estrellas
revoladoras.
14 março 2010
FRAGMENTÁLIA VI -
13 março 2010
GUERRA AO TERROR
10 março 2010
DIÁLOGO COM KAFKA
09 março 2010
NAVALHA NA TARDE
Por Marco A. de Araújo Bueno
{Em atenção à premonição daquele domingo, quanto aos 8.8 que pegou o Chile e às mulheres, nas figuras da Bia Pupin e Paola Benevides}
...a mãe virou-se para pegar talco e pomada sobre a cama. Inquieto, ele revirou-se na cômoda e tchof, sem cuspe – quedou-se encestado na cestinha de lixo ao lado, de ponta cabeça. Queda rápida, sem conseqüências; amortecida pelas texturas macias de algodão e outras brancuras do interior da cesta. Nem resvalou o aro. E, como numa retomada da epifania do parto, o pai o resgatou pinçando-lhes os pés segundos depois, triunfante e exclamando em júbilo - É lindo até de ponta cabeça!
Fim de ano, fim de semana, fim de tarde; tarde sem fim. Com o tempo, habituou-se a tratar esses fragmentos inteiros de lembrança, que, da mesma forma como irrompiam do nada, ao nada se recolhiam cheios de nostalgia nebulosa, acostumou-se a denominá-los de vitrais do tédio. Talvez para reaver deles a poética do que se foi, em meio ao tédio do que, apenas, é. Se a vida fosse um quebra-cabeça... e ficou por ali, coçando suas inconclusões.
O próprio domingo estava inconcluso: seu time quase na ponta do campeonato (se virassem a tabela de ponta cabeça...), um abafamento viscoso estourando barômetros, prenunciando um temporal que não despencava nunca; perspectivas embaçadas pra semana e...a barba por fazer – um estilhaço no vitral!
A barba e o domingo; os domingos e a barba, a que fora crescendo como picadas no cerrado em sentido aleatório, sem padrão definido pela face, resultado de investida precoce com a lâmina do pai contra sua face de onze anos. Travessura de moleque em férias na praia, quando objetos pessoais perdem privacidade e excitam a imaginação. Especialmente, os perigosos, ainda que apenas para o sentido dos fios da barba de um homem. Toda manhã, uma indagação sobre este sentido, neste sentido...
O domingo e suas animosidades à flor da pele, aquela irritabilidade posta como a mesa posta e predisposta a todo tipo de encontro - intimidade que ficou à sombra esgueirando-se pelos cantos da agenda blindada ao longo da semana, agora reclama uma forma qualquer de expressão explosiva para romper o dique e azedar a modulação da voz, a truculência dos gestos menores. O monstro oculto pela rotina protocolar do não-dito: - Me passa o azeite e o controle remoto que esqueceu de trazer pra mesa. E, pra seu “controle”, eu prefiro adoçante no meu suco e não na salada. – Nossa, não pode desgrudar da televisão nem pra almoçar? Olhe suas olheiras, que horrível. – Estão na moda, sabia? É, as velhas e boas olheiras do Sérgio Cabral pai, ganharam as eleições no Rio; voltaram por procuração genética, pra lançar um olhar mais “doce” para o morro...Sabia que quarenta por cento de mediação de conflitos é puro senso de humor? O que virou o FHC depois que operou as olheiras? – Ta acabando já o jogo, pelo jeito do seu humor, querido? Nunca vi almoçar tão tarde, meu estômago me pergunta se eu acho que ele é idiota pra ficar esticando essa enganação com queijinho e azeite. – Pois nem começou, conforme você nem viu; deixa a louça que depois eu lavo. Vou esperar o ciclone lá fora. – Que ciclone? – O extratropical com chuva de granizo, no mínimo, pra aliviar minha neurose barométrica. E arrastou a espreguiçadeira para perto das plantas.
Depois eu lavo tudo, o ciclone lava o rebaixamento do time e o vento estilhaça o vitral de tédio. Agora é só realizar o nada. Mas ela esticou as pernas na muretinha, e as observava longas e prateadas, como prateada era a navalha que deslizava por elas. Passa as mãos pelo rosto, irritado. Reclinado, ela decide barbeá-lo.
Trovões anunciam alguma trégua, o vento mais forte os acaricia, silentes.
Debruçada sobre o pescoço dele, entregue, enquanto a navalha, precisa, corrige o relevo da pele dos onze anos, percebe o olhar agudo, imperturbável e o ângulo harmonioso daquelas mandíbulas. Nebulosidades espraiam-se lentas por trás daquele rosto feminino, oval; tão oval. – Você é a mulher mais linda que eu já vi de ponta cabeça! Não me saia por aí de ponta cabeça, viu! – Pára, não mexe. Barbear é preciso...
- Viver não é preciso!
08 março 2010
6 CHINELOS
.
Quando há três pessoas.
Em uma casa
Seus chinelos se misturam
Sob as camas.
Quando há três pessoas
Em uma mesma casa
É mais fácil
Perder os chinelos.
07 março 2010
FRAGMENTÁLIA V - DROPS TEÓRICOS + Mcs
"Uma gaiola saiu à procura de um pássaro"
Anotação (microconto, praticamente) e ilustração de Franz Kafka
FRAGMENTO TEÓRICO V
Por Marco A. de Araújo Bueno
Concernente à intensidade a que se denomina epifania, aquela que nos chega via postulações que James Joyce anuncia em “Stephen Hero”, a respeito do que se espera de um “homem de letras”, qual seja, “uma súbita manifestação espiritual que surge tanto no meio dos mais ordinários discursos ou gestos, quanto na mais memorável das situações intelectuais” e que, porquanto representem, as epifanias, “os instantes mais delicados e mais fugidios”, (ou “evanescentes”, conforme a tradução) caberia ao homem de letras observá-las com extremo cuidado. Era, afirma Umberto Eco (“Sobre uma Noção Joyceana”, in “Joyce e o romance moderno”, 1969) de Walter Pater a concepção estética que descrevia a natureza desses instantes fugidios, excitações intelectuais ou dos sentidos que, “(...) iluminando um certo horizonte, por um momento parece entregar ao espírito a sua liberdade”. Poder-se-ia atribuir à formação jesuítica de Joyce a inspiração advinda do que Eco considera, aparentado ao claritas de São Tomás de Aquino, como um “epifenômeno” para o tomista Maurice de Wulf(1895) - uma apropriação, pelo jovem Joyce, de uma “escolástica de segunda mão”. Pois contentemo-nos com a etimologia, por um lado (“epiphaino” - fazer aparecer, mostrar, fazer conhecer), momento da aparição de uma realidade que se revela, (apropriável por ou já plasmada como imagem poética) e, por outro, com a idéia de uma herança do decadentismo europeu em Joyce, demonstrada também por Eco, cotejando a teoria do momento da epifania no Stephen Hero com o romance “il fueco” (o fogo) de Gabriele D’Annunzio publicado na virada do século XIX, cuja parte primeira relata os êxtases estéticos do poeta Stelio Effrena e se chama exatamente “Epifania do Fogo”, segundo R. Ellmann, biógrafo de Joyce.De fato, neste livro-embrião (do subseqüente “Retrato do Artista Quando Jovem”, pelo menos), aqui onde assinalo a noção laica, secularizada de epifania, literalmente salvo (cerca de 500p) do fogo por Nora Joyce (!), seu marido afirma que, ao captar o momento exato no qual essa aparição acontece [e Joyce colecionava fragmentos disto pelas ruas de Dublin], “ele acaba de sondar intensamente, em toda a sua verdade, o ser do mundo visível (...) a beleza, esplendor do verdadeiro, acaba de nascer”. Assinaladas algumas pistas genealógicas e contornadas considerações que subjazem toda a experimentação formal dos modernistas (inclusas aquelas que remetem ao grande legado do movimento romântico, qual seja, o de questionar e dissolver a própria aplicabilidade do conceito de gênero, já aludida aqui, questão enriquecida tanto pelo formalismo russo quanto pelo círculo bakthiniano) estabeleçamos, para efeito da natureza do efeito que nos importa, o que, relacionado à epifania, constitui categoria neste estudo e isso demanda alguma operacionalidade como a que busco, junto a Miguel Cardoso, quando afirma ser a epifania “(...) um instrumento de revelação que suspende o devir e se destaca dele (...) momento efêmero [que] registrado – prende a atenção –(...) prolonga seu significado(...)e fornece nós privilegiados de significado ao leitor”. A idéia topológica de “nós” remeter-nos-á a Lacan, isso é certo, à categoria do que denomina registro do real, por definição – inapreensível (equivalente à coisa em si postulada por Kant) -, sobre cuja propriedade essencial, afirmava Lacan, “(o Real) não tem fissuras”. Afirmava até chegar a Joyce no seminário de 2004 – “Sinthome”, no qual dedica um capítulo à idéia de um furo no real, pela proposta topológica de uma outra urdidura de nó, para dar conta da epifania. Observe-se que, de extração freudiana (“das ding”), esse real, para Lacan – a coisidade da coisa, cuja materialidade falta na linguagem, ainda que não examinemos aqui o teor do referido seminário, interessar-nos-á no exato momento em que, para a noção de epifania como efeito no leitor de um microconto, efeito este que parece atado ao registro do simbólico, que é coextensivo à ordem da linguagem segundo o próprio Lacan, tentarei estabelecer a diferença entre a singularidade da experiência suscitada no leitor de narrativa condensada ao extremo, e algumas das tantas formas de arrebatamento que a leitura de uma obra de arte provoca, em sentido amplo. Quando não, pelo menos, que se observe o quão recente é o escopo de todo esse conjunto de postulações teóricas!
“Denegação”
Ausentei-me ao funeral de meu esposo; vê-lo tão sem vida...
***
Por Rafael Noris
Era noite, o samba rolava solto no bar. Um velho, pela décima segunda vez: - Mais uma dose! e com que alegria sambava depois.
06 março 2010
Susto bem tomado

Por Paola Benevides (ilustração e texto)
Nadar? Não sabia, não cria que fosse possível nem na respirada. Quis afogar tão cedo quanto o sol tardino dentro do risco horizontal. Era fogo e morte, era lava. O que fazer poderia? Enquanto maturava o chá pensamenteiro, ele dizia: - Nada! Nada! Nada!
Então crescia o medo feito água fervente dentro da chávena. Baixava a chama, chamava, não vinha. Era saudade apenas. Não que apenas pudesse ser saudade, não que isto fosse um só "a penas", a duras penas era uma falta absorvente dentro do oco dela. E o mundo se sobressaltava feito a crosta terrestre de agora, naquele segundo único capaz de subtrair um dia. Os dias dela mais pareciam neve. Derretiam seu calor pelo outro, só queria o mesmo, o ido que voltava fantasma na ânsia do amor dela. Da dor, nem sei. Era de dar dó. Sabia. Mulher sábia que era tanto tantas vezes, deixando-se consumir por lembrança tão tadinha... Ó! Fumaça.
Tempo curará. Curar-se-á a sorte. Mas isto se a morte não lhe provocar. Pois os antigos que dizem, ser chamado em nome audível por ninguém visível é perigo. Fulana, fulana, fulana... Seu bú enquanto põe a chaleira para esquentar...
04 março 2010
Desti[lado] neo[i]lógico
"É tom bom nada sabê.."
ÉvaSporam-se porquê?
Onde vida é mesmo assim
Ah! puseram-se a chover
Nesta vida "BamBalim".
Ah, Dão, apenas um gomo, um limão, p'rardermos numa Cagji... BRINA.
03 março 2010
Notícias Literárias
02-03-10 Editora promove sarau lésbico-literário no Rio
01-03-10 Escola adota livro com palavrões e causa polêmica em Campo Grande (MS)
01-03-10 Milton Hatoum: O grande tema da vida moderna é a solidão
01-03-10 Intelectuais e amigos de José Mindlin lembram paixão pelas letras e pelo diálogo
28-02-10 ABL pede ajuda ao Itamaraty para escritores brasileiros no Chile
27-02-10 ‘Eu tive a sorte, ou o azar, de estar vivo’, diz Mário Bortolotto
27-02-10 Guimarães Rosa dá o tom de novo CD de Egberto Gismonti
26-02-10 Pára excrever mau - Ivan Lessa
24-02-10 Universidade cria coletânea de Literatura hispano-brasileira
23-02-10 Livro examina vida e obra de Saramago e ganha elogio do escritor
23-02-10 Autor prepara há sete anos biografia de Fernando Pessoa
Reportagens
Redescoberta do Clichê: Entrevista com a escritora Beatriz Bracher
Gabriel Garcia Márquez: O Escritor e o Ditador
"Literatura não é teoria, é paixão" - Tzvetan Todorov
O Crepúsculo de Drácula
Abraços Partidos - A alma masculina segundo Almodóvar
Concursos Literários
Prêmio Literário Afonso Duarte 2009/2010
Concurso Cultural de Poesia - Casa das Rosas
2º Concurso Literário UCB - Crônicas Cariocas de Poemas
23.º Concurso Nacional de Contos Cidade de Araçatuba
Concurso de Haikai Nenpuku Sato
2º Concurso de Minicontos do Estronho
I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços - 2010
Prêmio Literário para Autores Cearenses
02 março 2010
FLORES PARA MEU PAI
Por Bia Pupin
01 março 2010
Sobre a paixão e outras dores
Por Rafael Noris
Deu-lhe um bofetão na cara. Um gemido.
- Quando deixou de me amar? perguntou, agora escondendo a face na palma das mãos, sem acreditar no que acontecia.
Então, enfiou a faca três vezes onde acredita ficar o rim dela.
Na quarta, pensou.
- Acho que ainda te amo.
Uma quinta, tão intensa.